quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O GRITO




Animalizado pelo extinto extremo, o homem gritou. Seu protesto falado, mais parecido um uivo, foi longo e estridente. Num momento as artérias, de sua garganta, ficaram mais caudalosas, e as veias mais protuberantes, seu rosto foi transmudando para um vermelho aguado. Talvez até mesmo seus vasos sanguíneos gritassem naquele momento.
Dor? Desabafo? Insanidade incontrolável? Não sei. Só sei que o homem gritou. E o grito, que durou alguns segundos, reverberou por mais tempo pelo ambiente, vibravam as paredes azuis e as plantas ornamentais. O grito não passara com o cessar dos estímulos fisiológicos. Aquela mistura de sons que saia de sua boca e nariz, todavia mais parecia avançar de cada célula de seu corpo, ecoou pelo silêncio instantâneo que o sopro quente deixou. Ecoava pra fora e pra dentro de si. Agora os olhos, que perderam o foco no instante de ira, começaram a reconhecer as imagens da paisagem ao seu redor, foi o primeiro sinal de que o grito havia passado. A sua face, paulatinamente, foi tomando sua coloração normal, as veias e artérias aquietaram-se debaixo de sua pele, a boca, já fechada, engole a seco um volume de saliva. A raiva passara e o homem sentou.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Coriza


Coriza

Escolher é uma arte tão fascinante
quanto a própria vida
Se esconder pode ser tão necessário
quanto sorrir

Ela surgiu como um devaneio
Se tornou uma obsessão em dias
Logo me vi envolto numa quimera
preso num sentimento que me enlouquecia

Não teve saída. O destino teve que ser duro
Um golpe profundamente sentido por mim.
Tudo obscuramente foi perdendo o sentido
e a certeza do fim foi me consumindo.

Mas um bicho teimoso como eu
tinha que se aventurar nesse enredo falido
Mais uma vez, outras vezes, mas...
...quantas mais?

As portas abertas por mim
A vida fechava atrás. Todo esforço atrapalhado
Era vencido... Tava errado.
E agora? O que faço?

Corro dos erros ou me jogo do penhasco?
Depois que descobrir que não há morte...
...aprendi a respeitar mais a dor.
Ah! Esse ser teimoso, acho que se cansou de errar.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Estou feliz

Se eu dissesse que sou feliz,
depois de um tempo, que
eu voltasse a ler este poema,
talvez acharia que não soubesse o que dizia
mas, sei que estou feliz,
e isso ninguém, nem mesmo eu,
pode negar um dia.

Não há nada mais doce,
mais gratificante, mais encorajador,
que o sentimento aflorado
após um sonho realizado.
E, eu realizei

É emocionante e recompensador
voltar a ter sonhos
Reacreditar no amor,
Fazer da vida uma obreira de boas ações
Buscar objetivos, confiar em mim!

Saber que há muito a se fazer.
Saber que é útil para alguma coisa.
Saber que eu sei o que eu quero,
E que, pode ser, que alguém também me queira.

Ter, aos poucos, consciência,
de quem sou, e tentar
viver conservando esse estado,
sempre alegre, sempre forte
Sempre lúcido!

Claro, que um frio na barriga,
desponta quando penso em tudo
que procuro conquistar.
Efeito de um pouco de medo, porque não,
de um pouco de insegurança,
ou receio de sentir o gosto da derrota.
O fim do bom ânimo.

Mas, não tenho mais o medo da dor
Sei que nunca, perpetuamente nunca, estarei só
E também, que a força para vencer,
estará comigo sempre.

Estou feliz, por que posso ser advertido,
e orientado
Por que, eu sei, da presença de Deus,
E que sem ela não posso viver

Posso até um dia,
achar que exagerei nessas linhas,
Ou, reconhecer que fui realmente feliz,
Ao menos, um dia, nesta minha via!

Sentimento dormente

Cada vez mais firme
O instante que marca o nada
Alma vazia, mente poluída
Polêmica, epidêmica, voraz...

Onde está o amor?
Foi-se a quilômetros de distância!
Não há nada a fazer
Pobre, minúsculo coração de criança

Amansa, nada substitui o ser
Anda, cansa deixa a distância vencer
Nada força tanto uma lágrima despontar
Desejo de vê-la, e não poder encontrá-la.

Não é por isso que aqui me encontro
Procurando ser mais humano
Drogando-me para ser menos normal
Perdendo-me numa experiência fatal

Agora, deixo o foco escapar
Algo, aqui dentro, ainda me agulha
Punge, não... a discussão é inevitável...
Ahh, o não... quantas vezes aceitei sem contestá-lo

Distante da realidade
A verdade é o meu mundo
Onde o que está limitado é infinito
E as decisões sem limites são tomadas

Acabei, e no fim
Tudo se foi...e a distância ainda está..
E quando com ela me encontrar não ficarei surpreso
se com mais uma surpresa me deparar.

O barco, o ideológico

A vida é como um barco
A personalidade a tripulação
Milhões e milhões de homens limpam meu convés
Deslizamos pelo mar sem pés
Aos comandos de um mapa sem direção

Minha bússola é a lua minha
Porém embriagado pelo brilho de uma estrela
mudo o rumo de meu barco
Empenhada segue a minha embarcação

Correntes marítimas chocam-me
Com minha embarcação vendida
ando, nesses tempos, como um ser vendado
Com um pobre, e lúdico ser inocente.

O tempo passa e a tripulação diminui
O barco desgasta
o vento desanima
As rotas mudam...

Mas, sempre há um porto
um porta-aviões
ou inceberg...Algo que nos faz parar
Algo que faz subirmos
Alguém que nos obrigue a mergulhar!

Enquanto isso, o barco vai...
Desesperado por uma rota feliz...
Nós seguimos...