sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CARTA DE DESPEJO

CARTA DE DESPEJO

Ilusão da Conceição,

Eu, Iludido da Silva, quem opera essa caneta no presente momento, decidido, magoado, com o orgulho ferido, perante minha consciência, uma cerveja pela metade e ao som de Waldick Soriano, faço chegar ao conhecimento de vossa insolência máxima esta CARTA DE DESPEJO, para que a senhorita, Ilusão da Conceição, bonita, burra, insuportavelmente idiota e com certeza futuramente arrependida, desocupe a posse e leve todas as suas tralhas e lembranças íntimas do CORAÇÃO de propriedade da pessoa que a essa subscreve, localizado no lado esquerdo do peito, não muito grande, de cor vermelho-sangue, agitado( vide os vários pulos desenvolvidos incansavelmente). Local gentilmente cedido, sem muito espaço porém com muito conforto, que, no tempo do início da ocupação, pela ora despejada, se encontrava em excelentes estado de conservação e, como pode ser facilmente comprovado, o mau uso feito pela Srª. Ilusão deixo-o praticamente em pedaços, não restando outra saída se não a última via de civilidade demonstrada por essas linhas.
Peço a vil possuidora que ao deixar meu coração entregue a sua respectiva chave de bom grado, pois a vida segue e não é recomendado, pelas normas brasileiras de culinária e paixão, que meu órgão vital – para evitar dúvidas, MEU CORAÇÃO - fique por muito tempo desocupado.
Sem mais, aguardo o cumprimento confiante no mínimo de dignidade que ainda lhe resta.

Vai com Deus, e não precisa dar tchau,


Iludido da Silva

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Olhe para ele...

Como ele foi ingênuo. Tudo que falava à ele, ele acreditava. Aliás, não! – Nem tudo. Ele – lembro bem – nunca aceitava elogios, dizia: - elogios estragam as pessoas, mas é bom ouvir - e sorria. Ah! Como ele sofreu por essa ingenuidade.
Lembro quando ele deixou de sair à noite, para a pracinha da cidade, porque lhe diziam – ou ele acreditou enxergar nos olhos alheios - que não era a altura do lugar. Ele acreditou, quando disseram para ele, que ele era feio e sem graça. Os elogios da família e de uma garota não bastavam. Pobre lindo garoto ingênuo, perdeu seu desabrochar por covardia.
E, - quando lhe disseram - que ele não era brilhante, que sua criatividade era medíocre e que as letras não combinavam com seus textos,  ele acreditou. E passou a só a ver ignorâncias suas – passou a cometer muitas brutalidades por acreditar ser limitado. Quanta ignorância por ingenuidade, se, ao menos, tivesse um pouco mais de experiência e percebesse o mundo a sua volta com mais segurança.
Ele conseguiu acreditar, por pura ingenuidade, que ela não o amava. Queria-a, mas não pode com seu lado estúpido que gritava, feito louco – ela não quer você, ela não quer você! – um ingênuo louco, só lhe sobrou as poesias e por fracas que eram o tempo o transformou em um poeta morto. Morto e ingênuo. A ingenuidade ele não perdeu.
Como ele foi ingênuo. Tudo, que falava a ele, ele acreditava... Tsc, tsc, tsc...