
Animalizado pelo extinto extremo, o homem gritou. Seu protesto falado, mais parecido um uivo, foi longo e estridente. Num momento as artérias, de sua garganta, ficaram mais caudalosas, e as veias mais protuberantes, seu rosto foi transmudando para um vermelho aguado. Talvez até mesmo seus vasos sanguíneos gritassem naquele momento.
Dor? Desabafo? Insanidade incontrolável? Não sei. Só sei que o homem gritou. E o grito, que durou alguns segundos, reverberou por mais tempo pelo ambiente, vibravam as paredes azuis e as plantas ornamentais. O grito não passara com o cessar dos estímulos fisiológicos. Aquela mistura de sons que saia de sua boca e nariz, todavia mais parecia avançar de cada célula de seu corpo, ecoou pelo silêncio instantâneo que o sopro quente deixou. Ecoava pra fora e pra dentro de si. Agora os olhos, que perderam o foco no instante de ira, começaram a reconhecer as imagens da paisagem ao seu redor, foi o primeiro sinal de que o grito havia passado. A sua face, paulatinamente, foi tomando sua coloração normal, as veias e artérias aquietaram-se debaixo de sua pele, a boca, já fechada, engole a seco um volume de saliva. A raiva passara e o homem sentou.