quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O GRITO




Animalizado pelo extinto extremo, o homem gritou. Seu protesto falado, mais parecido um uivo, foi longo e estridente. Num momento as artérias, de sua garganta, ficaram mais caudalosas, e as veias mais protuberantes, seu rosto foi transmudando para um vermelho aguado. Talvez até mesmo seus vasos sanguíneos gritassem naquele momento.
Dor? Desabafo? Insanidade incontrolável? Não sei. Só sei que o homem gritou. E o grito, que durou alguns segundos, reverberou por mais tempo pelo ambiente, vibravam as paredes azuis e as plantas ornamentais. O grito não passara com o cessar dos estímulos fisiológicos. Aquela mistura de sons que saia de sua boca e nariz, todavia mais parecia avançar de cada célula de seu corpo, ecoou pelo silêncio instantâneo que o sopro quente deixou. Ecoava pra fora e pra dentro de si. Agora os olhos, que perderam o foco no instante de ira, começaram a reconhecer as imagens da paisagem ao seu redor, foi o primeiro sinal de que o grito havia passado. A sua face, paulatinamente, foi tomando sua coloração normal, as veias e artérias aquietaram-se debaixo de sua pele, a boca, já fechada, engole a seco um volume de saliva. A raiva passara e o homem sentou.

3 comentários:

Anônimo disse...

Dau,

Você utiliza para redigir um quadro, O grito. Atráves do mesmo, busca sentir as impressões que o mesmo provoca em você e muito mais do homem, qual homem? Quem é o homem que grita? Talvez, um homem universal, num instante de desespero e dor, a partir daí descreve de forma minunciosa como foi o grito, num sentido físico. No final completa, que de alguma forma o homem beneficiou-se como o mesmo. Como uma forma de extravasar seu stress, suas fobias, traumas ou loucura... o grito destarte, demostra a necessidade do homem ou mulher buscar extravassar...

Permita-me a ousadia, esse blog por exemplo pode ser o seu grito, como processo de tomar a palavra e não reprimí-la, pois, no processo de depressão ou melancolia o ser humano tende a reprimir a palavra e silenciar. Isso jamais pode acontecer, pois, a palavra é um sinal de libertação do ser e de expressão dos seus ideais mais profundos, fazendo pontes e entrelaçando com seus semelhantes, socialização tão necessária a integridade mental. Escrever um blog não é ensimesmar, mas, partilhar seu ser e fazer pontes com seus semelhantes, dessa forma, o seu blog é o seu grito. Um instante após, sua alegria!

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Que profunda e bela análise. Grato.